Estudo
Recreio é tão importante como aprender a ler
15 | 01 | 2013 13.07H
Especialistas defendem o recreio e os seus benefícios físicos,
sociais e ainda emocionais.
Poucos
duvidam que o intervalo é o momento escolar preferido da maioria das crianças.
E se dúvidas houvessem, os especialistas da academia norte-americana de
pediatria esclarecem que devia também ser um dos preferidos dos pais e dos
professores. Isto porque, defendem os pediatras num artigo publicado na revista
Pediatrics, «quanto mais tempo as crianças estiverem presas a uma secretária,
menos capazes tendem a ser de processar informação. Não é suficiente passar da
Matemática ao Inglês. É preciso fazer um intervalo».
A
importância do tempo de recreio para o desenvolvimento saudável da criança é
confirmada ao Destak
por Cláudia Rocha Silva, técnica de psicomotricidade no Núcleo de
Neurodesenvolvimento do Hospital Cuf Descobertas, que não esconde a preocupação
com a redução do tempo que as crianças passam fora das salas de aula,
compensada com um aumento da carga horária, algo que tem acontecido por cá.
«Verifica-se que as crianças têm cada vez menos pausas ao longo do dia e que
essas pausas são cada vez mais curtas. Contudo, nem sempre essa redução do
tempo livre se traduz, efetivamente, em melhor rendimento académico. No nosso
contexto, é absolutamente necessário assegurar que, ainda que haja aumento da
carga horária, o direito a brincar e ao tempo de recreio, se mantém intacto.»
Benefício mais do que físico
Desde
2007 que os pediatras norte-americanos se preocupam com este assunto,
transformado em tema de investigação. Tudo começou com a necessidade de
confirmar a importância do recreio para o desenvolvimento físico das crianças.
Mas mais que isso, foi possível concluir que os seus benefícios excedem este
âmbito. «Verificámos que afeta o desenvolvimento social, emocional e cognitivo
de uma forma mais profunda do que aquilo que esperávamos», refere o artigo.
Cláudia
Rocha Silva confirma: «através dos jogos de movimento, a criança exercita a
força muscular, o equilíbrio, a resistência, a flexibilidade e a coordenação.
Portanto, a sua condição física sai beneficiada». Mas há mais. «Do ponto de
vista do rendimento académico está provado que o tempo de recreio favorece a
função cognitiva, com aumento do tempo de atenção e participação na aula e uma
melhoria geral do comportamento. Do ponto de vista social e emocional, o
recreio é fundamental para estabelecer relações com os colegas, construir e
desenvolver amizades, aprender a resolver conflitos, a gerir as tensões
interpessoais e a tornar-se resiliente.»
O
recreio é ainda, acrescenta a especialista, «um espaço de encontro com o outro,
onde a criança exercita diversas competências sociais. Ao brincar, os mais
pequenos partilham, cooperam, comunicam, adaptam-se, escolhem, decidem...
Portanto, aprende a estar com o outro e constrói-se como ser social».
Carla Marina Mendes | cmendes@destak.pt
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